Em um cenário de crise como o atual, diversificar investimentos e buscar empresas de setores perenes com alto fluxo de caixa pode ser uma estratégia eficiente para reduzir riscos.
Neste artigo, analisamos oportunidades no mercado brasileiro, focando em empresas resilientes que pagam bons dividendos e apresentam potencial de valorização no longo prazo.
Vantagens de Começar a Investir em Momento de Crise
Quem está montando uma carteira do zero hoje provavelmente terá uma rentabilidade maior no curto prazo do que investidores que acumularam posições a preços mais altos. Isso porque os preços atuais estão mais descontados, permitindo entrar no mercado “mais próximo do poço”. No entanto, mesmo para investidores experientes, este é um momento oportuno para aumentar posições em empresas sólidas.
A crise atual parece se assemelhar mais à de 2015 do que à de 2020. Enquanto a recuperação em 2020 foi acelerada devido às injeções de liquidez e cortes de juros, a crise atual tende a ser mais prolongada, o que pode representar um período maior de preços descontados para investidores pacientes.
Diluindo Riscos em Tempos de Incerteza
Em momentos de alta volatilidade, empresas que distribuem dividendos robustos podem ajudar a diluir o risco do investimento. Quando o retorno vem apenas da valorização de preço, o risco é maximizado em períodos de queda. Porém, ao receber dividendos consistentes, parte do retorno já é garantida, reduzindo o impacto da volatilidade no resultado final.
Para ilustrar esse conceito, podemos comparar duas empresas como WEG e Banco do Brasil. Ainda que a WEG tenha historicamente apresentado maior valorização, em períodos de crise ambas podem sofrer quedas similares. A diferença é que o investidor em Banco do Brasil terá recebido dividendos expressivos ao longo do tempo, diluindo seu risco através do índice de Sharpe.
Setor de Energia Elétrica: Transmissão e Distribuição
O setor de energia elétrica destaca-se pela perenidade e pelo alto fluxo de caixa, oferecendo oportunidades interessantes em empresas como:
TAESA (TAEE11)
A TAESA apresenta alto pagamento de dividendos, mas enfrenta o desafio das renovações de concessões previstas para 2030. Com o aumento das taxas de juros, a empresa pode enfrentar dificuldades para emitir novas dívidas ou ações para financiar a renovação, potencialmente impactando sua capacidade de manter o atual patamar de dividendos.
Transmissão Paulista (TRPL4/ISAE4)
A Transmissão Paulista (agora denominada ISA CTEEP) também trabalha com a questão de renovação de concessões, porém já iniciou investimentos significativos com um CAPEX planejado de R$5,5 bilhões a R$7,2 bilhões. Um ponto de atenção é a RBSE (indenização do governo da época da presidente Dilma), que terminará em 2028, coincidindo com o período em que novos projetos começarão a gerar receita. Isso significa que o aumento de receita das novas concessões será parcialmente compensado pelo fim da RBSE.
CEMIG (CMIG3/CMIG4)
A CEMIG aparece como a opção mais atrativa do setor atualmente. A empresa possui três principais áreas de atuação: transmissão, distribuição e geração de energia. Comparada às concorrentes, apresenta menor endividamento (menor relação dívida líquida/EBITDA) e alto fluxo de caixa.
O principal risco associado à CEMIG é a possibilidade de federalização, uma vez que o estado de Minas Gerais tem dívidas com a União. No entanto, este risco parece estar excessivamente precificado, pois:
- Mesmo que ocorra a federalização, a gestão operacional da empresa provavelmente permaneceria a mesma
- A dívida de Minas Gerais com a União é tão expressiva que a CEMIG representaria apenas uma pequena parte do pagamento
Entre as ações da CEMIG, a preferência recai sobre CMIG3 (ON) pela presença do “tag along” de 80%, oferecendo maior proteção em caso de venda de controle. Atualmente, a CMIG3 oferece um dividend yield próximo de 10-11%, extremamente atrativo para uma empresa de setor perene.
Bancos: Oportunidades Claras no Setor
No setor bancário, praticamente todas as grandes instituições estão descontadas, o que torna a escolha relativamente fácil. Duas opções se destacam:
Banco do Brasil (BBAS3)
O Banco do Brasil apresenta-se como a opção mais descontada do setor, com um P/L abaixo de 4 e um P/VP de aproximadamente 0,78, números que não refletem adequadamente sua capacidade de geração de lucros, que tem sido competitiva até mesmo quando comparada aos bancos privados.
O “desconto de estatal” parece estar exagerado neste caso, criando uma oportunidade clara para investidores iniciantes e experientes. Para quem está começando uma carteira do zero, o Banco do Brasil representa uma das melhores portas de entrada no mercado de ações brasileiro.
Itaú (ITUB4/ITSA4)
O Itaú é considerado o melhor banco do Brasil em termos de qualidade operacional. Uma forma interessante de exposição à instituição é através das ações da Itaúsa (ITSA4), que frequentemente negocia com um desconto em relação à soma de suas partes.
Quando o desconto da Itaúsa ultrapassa os 20-22%, cria-se uma oportunidade adicional, considerando que aproximadamente 93,5% do resultado da holding vem do Itaú.
Bradesco (BBDC4)
O Bradesco, apesar de ser uma instituição sólida, apresenta desafios na sua parte operacional bancária, com resultados abaixo dos principais concorrentes. Por outro lado, possui uma divisão de seguros extremamente valiosa.
Em uma análise hipotética de separação entre banco e seguradora, estima-se que apenas a seguradora do Bradesco valeria aproximadamente R$72 bilhões, valor próximo ao da BB Seguridade. Considerando essa divisão, o banco em si estaria sendo negociado a um preço justo ou até ligeiramente acima, diferentemente do Banco do Brasil e Itaú, que oferecem descontos mais evidentes.
Saneamento Básico: Setor Perene com Perspectivas de Longo Prazo
O setor de saneamento básico, apesar de apresentar ROE tipicamente menor que outros setores perenes, oferece estabilidade e potencial de crescimento no longo prazo. Entre as empresas do setor, destaca-se:
Sanepar (SAPR11)
A Sanepar apresenta uma oportunidade única devido a dois fatores principais:
- Expansão territorial: Ao contrário de metrópoles como São Paulo, onde o saneamento já está estabelecido e concentrado em áreas verticalizadas (atendendo muitos clientes com menos infraestrutura), a Sanepar ainda tem potencial de expansão para áreas menos densas. Embora isso implique em maiores investimentos iniciais, o custo será diluído no longo prazo.
- Indenização pendente: A empresa deve receber uma indenização de aproximadamente R$3,2 bilhões, o que representa cerca de 45% do seu valor de mercado atual. Essa entrada de recursos pode significar tanto expansão de operações quanto maior distribuição de dividendos.
Atualmente, a Sanepar negocia entre R$5,00 e R$5,30, com um preço-alvo conservador próximo de R$7,00 considerando apenas o impacto da indenização. A empresa tem mostrado volatilidade quando novos comunicados sobre a indenização são divulgados, criando oportunidades tanto para investidores de longo prazo quanto para traders.
Estratégia para Construção de Carteira em Cenário de Crise
Para investidores que estão montando uma carteira do zero ou expandindo posições em meio à crise atual, a recomendação é priorizar:
- Empresas de setores perenes que já demonstraram resiliência em múltiplos ciclos econômicos
- Alto fluxo de caixa e bons dividendos, que permitem ao investidor reduzir riscos e reinvestir constantemente
- Preços significativamente descontados em relação ao valor intrínseco
As empresas destacadas neste artigo representam oportunidades em diferentes setores essenciais da economia brasileira e podem formar a base de uma carteira bem diversificada com potencial tanto para renda passiva quanto para valorização no longo prazo.
Este artigo não constitui recomendação de investimentos. Sempre faça sua própria análise e consulte um profissional habilitado antes de investir.