O dólar fechou em queda nesta quinta-feira (14/10), com variação negativa de 0,08%, sendo cotado a R$ 5,65.
A desvalorização da moeda americana foi impulsionada por uma combinação de fatores, incluindo incertezas em torno do arcabouço fiscal brasileiro e os novos dados da economia dos Estados Unidos, que trouxeram um impacto direto no mercado cambial.
O cenário internacional também influenciou o comportamento do câmbio, com destaque para a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de reduzir as taxas de juros, contribuindo para a oscilação do dólar.
Arcabouço Fiscal Brasileiro e Suas Implicações
A questão do arcabouço fiscal brasileiro é uma das principais preocupações do mercado financeiro atualmente. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou o compromisso do governo com o cumprimento das novas regras fiscais, que estabelecem limites para os gastos públicos. Segundo Haddad, o governo não cogita retirar as estatais da contabilidade fiscal, como alguns rumores sugeriam, e garantiu que o controle sobre os gastos públicos será mantido até o fim do ano.
As declarações de Haddad visam trazer mais previsibilidade e segurança ao mercado, que tem estado cético quanto à capacidade do governo de manter suas contas sob controle. A preocupação com o aumento da dívida pública, que pode atingir 84,1% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, gera um cenário de incerteza sobre a capacidade do Brasil de atrair investimentos estrangeiros a médio e longo prazo. A revisão de gastos públicos, que Haddad classificou como uma prioridade até o fim do ano, será crucial para a manutenção da confiança dos investidores.
Ajustes no Arcabouço Fiscal e Suas Consequências no Mercado
Uma das principais pressões que o governo enfrenta em relação ao arcabouço fiscal é o risco de aumento das despesas e a necessidade de um ajuste mais rigoroso nas contas públicas. Recentemente, o governo identificou a possibilidade de cortar até R$ 25,9 bilhões em despesas sociais para equilibrar o orçamento. No entanto, essas medidas estão sujeitas à análise das receitas futuras e podem ser alteradas de acordo com a arrecadação.
A credibilidade do arcabouço fiscal brasileiro tem impacto direto sobre a cotação do dólar. Quando o mercado percebe um comprometimento firme do governo em manter as contas públicas sob controle, a tendência é de queda da moeda americana em relação ao real. A expectativa é que, se as medidas prometidas forem implementadas, o dólar possa voltar a patamares abaixo de R$ 5,50.
Dados Econômicos dos EUA: Impactos Globais
O desempenho da economia americana também influenciou a queda do dólar no Brasil. O Departamento de Comércio dos Estados Unidos divulgou nesta quinta-feira que as vendas no varejo subiram 0,4% em setembro, acima das expectativas do mercado, que previa um crescimento de 0,3%. Esse resultado fortalece a percepção de que a economia dos EUA continua a se expandir em ritmo estável, o que pode influenciar a decisão do Federal Reserve (Fed) em manter uma política monetária restritiva.
Outro dado importante foi a divulgação dos pedidos de seguro-desemprego, que somaram 241 mil na última semana, abaixo dos 260 mil da semana anterior. Esses números refletem um mercado de trabalho ainda resiliente, o que sugere que o Fed pode manter as taxas de juros elevadas por mais tempo para conter a inflação. A possibilidade de uma política monetária mais apertada nos EUA tende a valorizar o dólar globalmente, mas os sinais de estabilidade fiscal no Brasil mitigaram esse impacto.
Europa e a Redução dos Juros pelo BCE
Enquanto isso, na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu pela segunda vez consecutiva suas taxas de juros em 0,25 ponto percentual. As taxas agora variam entre 3,25% e 3,65% ao ano. A presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que não há sinais de que a zona do euro esteja se encaminhando para uma recessão, e que o consumo das famílias está em crescimento gradual, impulsionado pela redução das taxas de juros.
A medida foi vista como um alívio para a economia europeia, que vinha sofrendo com a alta nos custos de financiamento. Lagarde destacou ainda que a taxa de poupança das famílias europeias permanece elevada, em 15,7%, bem acima da média pré-pandemia, o que pode contribuir para um crescimento mais robusto do consumo nos próximos trimestres. A redução dos juros pelo BCE pode, a médio prazo, ajudar a enfraquecer o euro em relação ao dólar, gerando impactos no comércio internacional.
Ibovespa em Queda e o Papel das Commodities
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, fechou o dia em queda de 0,73%, aos 130.793 pontos. O desempenho negativo foi puxado pela forte desvalorização das ações de empresas ligadas às commodities, como mineradoras e petrolíferas. O minério de ferro registrou queda expressiva no mercado internacional, após a frustração do mercado com os estímulos anunciados pelo governo chinês para o setor imobiliário. A expectativa era de medidas mais abrangentes que pudessem impulsionar a demanda por commodities, o que não ocorreu.
Apesar da queda nas commodities metálicas, o petróleo registrou leve alta no mercado internacional. O Brent, referência global, subiu 0,31%, fechando a US$ 74,45 por barril, enquanto o WTI, referência dos EUA, avançou 0,40%, para US$ 70,67 por barril. O aumento nos preços do petróleo foi impulsionado por tensões geopolíticas no Oriente Médio, que ainda geram incertezas sobre a oferta global da commodity.
Perspectivas Futuras
Para os próximos dias, a expectativa é de que o mercado continue reagindo aos dados internacionais, especialmente às decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central Europeu. No Brasil, a continuidade da discussão sobre o arcabouço fiscal e as medidas de controle de gastos públicos será fundamental para determinar a trajetória do dólar e dos ativos locais.
Se o governo mantiver um compromisso firme com a austeridade fiscal, é possível que o real ganhe força em relação ao dólar, enquanto o Ibovespa poderá se recuperar caso as condições internacionais melhorem.