Montando uma Carteira do Zero em 2025: As Empresas Mais Descontadas para Investir em Tempos de Crise

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Em um cenário econômico desafiador, quem está começando a investir agora ou readequando sua carteira tem uma vantagem significativa: a possibilidade de comprar empresas sólidas a preços extremamente descontados.

O momento atual, que muitos analistas comparam mais à crise de 2015 do que à queda rápida e recuperação acelerada de 2020, oferece oportunidades para investidores que sabem onde procurar.

Neste artigo, vamos analisar as melhores opções para quem está montando uma carteira do zero hoje, com foco em empresas perenes, de setores essenciais, com alto fluxo de caixa e que pagam bons dividendos – características fundamentais para navegar em tempos de turbulência.

Por que Focar em Empresas com Alto Dividendo em Tempos de Crise?

Antes de mergulharmos nas recomendações específicas, é importante entender a lógica por trás da preferência por empresas pagadoras de dividendos em momentos de incerteza econômica.

Durante uma crise, todas as empresas tendem a sofrer desvalorização no preço das ações. A diferença crucial está em como essa desvalorização afeta o retorno total do investimento. Quando uma empresa não paga dividendos, todo o seu retorno depende exclusivamente da valorização de suas ações. Se o preço cai, o investidor não tem nenhuma compensação.

Por outro lado, empresas que distribuem dividendos consistentes proporcionam um “colchão” de proteção. Mesmo que a ação desvalorize no curto prazo, o investidor continua recebendo parte do seu retorno através dos proventos, que podem inclusive ser reinvestidos para comprar mais ações a preços mais baixos – potencializando os ganhos quando vier a recuperação.

Esse conceito é bem ilustrado quando comparamos empresas como WEG e Banco do Brasil. Embora a WEG historicamente apresente maior potencial de valorização, em momentos de crise, ambas podem cair. A diferença é que o investidor do Banco do Brasil terá recebido dividendos substanciais, reduzindo seu risco total medido pelo índice de Sharpe.

Setor Elétrico: Segurança com Bom Retorno

O setor de energia elétrica representa um dos melhores exemplos de negócios perenes – são empresas que, literalmente, sobreviveram a um século de turbulências no Brasil. Dentro deste segmento, três empresas se destacam:

TAESA (TAEE11)

A TAESA é uma tradicional empresa de transmissão de energia que historicamente tem distribuído dividendos robustos aos seus acionistas. Entretanto, ela enfrenta um desafio significativo nos próximos anos: a renovação das concessões previstas para 2030.

Com o aumento das taxas de juros, a TAESA poderá encontrar dificuldades para obter financiamento para essas renovações, seja via emissão de ações ou de dívida. Isso pode resultar em maior alavancagem financeira ou redução na distribuição de dividendos, que atualmente está entre 10% e 14% ao ano.

Embora continue sendo uma empresa sólida, esse risco específico deve ser considerado pelos investidores que buscam posições de longo prazo.

Transmissão Paulista (TRPL4/ISAE4)

A Transmissão Paulista (agora ISA CTEEP) encontra-se em situação semelhante à TAESA quanto às renovações de concessões, mas com uma diferença importante: a empresa já iniciou um expressivo programa de investimentos, com um CAPEX planejado entre R$5,5 bilhões e R$7,2 bilhões.

Um ponto de atenção para os investidores é que, embora novos projetos comecem a gerar receita a partir de 2028, esse mesmo ano marca o fim da receita da RBSE (indenização governamental do período Dilma). Portanto, o aumento de receita das novas concessões será parcialmente compensado pelo término dessa indenização, o que alguns investidores podem estar ignorando em suas projeções.

Ainda assim, com ações negociadas em torno de R$22-23,50, a Transmissão Paulista apresenta bom potencial de distribuição de dividendos nos próximos anos.

CEMIG (CMIG3/CMIG4)

Entre as três empresas de energia analisadas, a CEMIG emerge como a mais atrativa no cenário atual. Com atuação em três frentes (transmissão, distribuição e geração de energia), a empresa mineira apresenta menor endividamento e fluxo de caixa robusto.

O principal receio do mercado em relação à CEMIG é o risco de federalização, já que Minas Gerais possui dívidas com a União e poderia usar a empresa como forma de pagamento. Este temor é a principal razão para o grande desconto nas ações. No entanto, há dois argumentos contra esse cenário:

  1. A dívida de Minas com a União é tão expressiva que a CEMIG representaria apenas uma fração pequena do pagamento total
  2. Mesmo que ocorra a federalização, a gestão operacional da empresa provavelmente permaneceria a mesma

Entre as ações disponíveis, a preferência recai sobre CMIG3 (ON) pela presença do tag along de 80%, que oferece proteção adicional em caso de venda do controle. Atualmente, a CMIG3 oferece dividend yield próximo de 10-11%, extremamente atrativo para uma empresa de setor essencial.

Setor Bancário: Oportunidades Claras em Meio à Desconfiança

Montando uma Carteira do Zero em 2025: As Empresas Mais Descontadas para Investir em Tempos de Crise

O segmento bancário brasileiro apresenta algumas das distorções de preço mais evidentes do mercado atual. Praticamente todos os grandes bancos estão descontados, mas algumas oportunidades são particularmente notáveis:

Banco do Brasil (BBAS3)

O Banco do Brasil destaca-se como o mais descontado entre os grandes bancos, com um P/L abaixo de 4 e um P/VP de aproximadamente 0,78 – números que não refletem adequadamente sua capacidade de geração de lucros, que tem sido competitiva até mesmo quando comparada aos bancos privados.

O chamado “desconto de estatal” parece estar exagerado neste caso, criando uma oportunidade clara para investidores. A combinação de alta rentabilidade atual com potencial de reavaliação pelo mercado faz do Banco do Brasil uma das melhores opções para quem está construindo uma carteira do zero.

Itaú (ITUB4) e Itaúsa (ITSA4)

O Itaú é considerado por muitos analistas como o melhor banco do Brasil em termos de qualidade operacional. Uma forma interessante de exposição ao banco é através das ações da Itaúsa (ITSA4), holding que frequentemente negocia com desconto em relação ao valor de seus ativos.

Quando o desconto da Itaúsa ultrapassa 20-22%, cria-se uma oportunidade adicional, considerando que aproximadamente 93,5% do resultado da holding vem do Itaú. É importante lembrar que ao comprar Itaúsa, o investidor também está exposto a outros negócios da holding, embora em proporção muito menor.

Bradesco (BBDC4): Uma Análise Mais Cautelosa

O Bradesco apresenta uma situação interessante: embora seja uma instituição sólida, seu braço bancário enfrenta desafios operacionais maiores que seus concorrentes. Por outro lado, sua divisão de seguros é extremamente valiosa.

Em uma análise hipotética de separação entre banco e seguradora, estima-se que apenas a seguradora do Bradesco valeria aproximadamente R$72 bilhões, valor próximo ao da BB Seguridade. Considerando essa divisão, o banco em si estaria sendo negociado a um preço próximo do justo ou até ligeiramente superior, diferentemente do Banco do Brasil e Itaú, que oferecem descontos mais evidentes.

Embora não seja uma péssima opção, o custo de oportunidade de investir em Bradesco versus Banco do Brasil ou Itaú parece significativo no cenário atual.

Saneamento Básico: O Setor Perene Menos Apreciado

O setor de saneamento básico, apesar de ser essencial e regulado, não desperta o mesmo interesse que bancos e energia elétrica. Isso se deve principalmente ao menor ROE (Retorno sobre o Patrimônio) tipicamente apresentado por essas empresas e à percepção de maior necessidade de investimentos.

Sanepar (SAPR11)

A Sanepar se destaca no setor por dois fatores principais:

  1. Potencial de expansão: Diferentemente de regiões metropolitanas como São Paulo, onde o saneamento já está estabelecido em áreas densamente povoadas, a Sanepar ainda tem significativo potencial de expansão. Embora isso implique em maiores investimentos iniciais por cliente atendido (uma casa individual versus um prédio com centenas de apartamentos), esses custos tendem a ser diluídos no longo prazo.
  2. Indenização pendente: A empresa deve receber uma indenização de aproximadamente R$3,2 bilhões, o que representa cerca de 45% do seu valor de mercado atual. Este aporte de recursos pode ser direcionado tanto para expansão quanto para distribuição de dividendos.

Atualmente, a Sanepar negocia entre R$5,00 e R$5,30, com um preço-alvo conservador próximo de R$7,00 considerando apenas o impacto da indenização. Além disso, a empresa está protegida contra a inflação através dos reajustes tarifários e deve se beneficiar do marco do saneamento, que incentiva a expansão do setor com subsídios governamentais.

Estratégia para Construção de Carteira em Cenário de Crise

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Para investidores que estão montando uma carteira do zero ou reorganizando suas posições em meio à turbulência atual, algumas diretrizes se mostram fundamentais:

  1. Priorize empresas de setores perenes que já demonstraram resiliência em múltiplos ciclos econômicos
  2. Busque alto fluxo de caixa e dividendos consistentes, que permitem reinvestimento constante e redução do risco total
  3. Aproveite descontos significativos em relação ao valor intrínseco das empresas
  4. Considere o custo de oportunidade entre diferentes opções dentro do mesmo setor
  5. Tenha horizonte de longo prazo, entendendo que a atual crise, mais semelhante à de 2015 do que à de 2020, deve ter recuperação mais gradual

As empresas destacadas neste artigo – CEMIG, Banco do Brasil, Itaúsa e Sanepar – representam oportunidades em diferentes setores essenciais da economia brasileira e podem formar a base de uma carteira bem diversificada com potencial tanto para renda passiva quanto para valorização no longo prazo.

Conclusão

O momento atual do mercado, embora desafiador, representa uma janela de oportunidade especialmente favorável para quem está iniciando seus investimentos. Como em qualquer período de crise, a disciplina e a análise criteriosa são essenciais para identificar empresas verdadeiramente descontadas e diferenciá-las daquelas que estão baratas por boas razões.

Focando em empresas de setores perenes, com fluxo de caixa robusto e dividendos consistentes, é possível construir uma carteira resiliente, capaz não apenas de sobreviver à tempestade, mas de emergir fortalecida quando a recuperação econômica finalmente se consolidar.


Este artigo não constitui recomendação de investimento. Sempre faça sua própria análise e consulte um profissional qualificado antes de investir.

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