Durante o Fórum de Negócios do BRICS em Moscou, na última sexta-feira (18), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez uma declaração contundente ao afirmar que o BRICS será o principal impulsionador do crescimento econômico global nos próximos anos.
Segundo Putin, o bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – recentemente expandido para incluir o Egito, a Etiópia, o Irã e os Emirados Árabes Unidos – será responsável por gerar a maior parte do Produto Interno Bruto (PIB) global em um futuro próximo.
Essa declaração ocorre em um contexto de crescente competição entre blocos econômicos, com o BRICS se posicionando como uma alternativa às economias ocidentais dominantes.
Crescimento do BRICS e Comparação com o Ocidente
A justificativa de Putin para tal afirmação é o tamanho e o crescimento acelerado dos países membros do BRICS em comparação com as economias ocidentais desenvolvidas. Segundo ele, as nações que compõem o grupo estão experimentando um desenvolvimento muito mais rápido, o que garante sua liderança no crescimento global. Putin destacou ainda que o crescimento dos países do BRICS será menos dependente de interferências externas, um movimento que ele chamou de “soberania econômica”. Isso é especialmente relevante num momento em que muitos países do BRICS têm buscado diversificar suas economias e reduzir a dependência de economias ocidentais, como a dos Estados Unidos e da União Europeia.
Ao afirmar que o BRICS gerará a maioria do aumento do PIB global, Putin não apenas ressaltou o papel dos países emergentes no cenário econômico, mas também desafiou a hegemonia ocidental. Ele afirmou que o grupo, ao contrário das nações desenvolvidas, continuará crescendo de forma estável e consistente, beneficiando-se de mercados internos robustos e políticas de desenvolvimento sustentáveis. No entanto, o líder russo também reconheceu que esse crescimento dependerá da capacidade dos países do BRICS de se protegerem de influências e sanções externas, um desafio que se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Cúpula do BRICS em Kazan
Entre os dias 22 e 24 de outubro, a cidade russa de Kazan será palco da próxima cúpula do BRICS, onde Putin será o anfitrião e receberá líderes de vários países membros do bloco, incluindo China, Índia e Emirados Árabes Unidos. A cúpula tem como objetivo discutir estratégias de expansão do grupo, além de fortalecer o papel do BRICS na política e no comércio globais. Esse encontro é particularmente significativo porque a Rússia busca demonstrar que, apesar das sanções impostas pelo Ocidente devido à guerra na Ucrânia, ela ainda tem o apoio de várias economias poderosas e emergentes.
A expansão recente do BRICS para incluir países como o Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos foi destacada como um marco importante para o bloco. A inclusão desses novos membros amplia significativamente o alcance geopolítico e econômico do BRICS, que passa a representar uma fatia ainda maior da população e da economia globais. Segundo Putin, pelo menos outros 30 países manifestaram interesse em aderir ao bloco, um indicativo de que o BRICS está se consolidando como uma alternativa viável à ordem econômica dominada pelo Ocidente.
Sistema Financeiro Global e Redução da Dependência do Dólar
Um dos temas centrais da cúpula de Kazan será a reformulação do sistema financeiro global. Putin e os outros líderes do BRICS buscam reduzir a dependência do dólar americano e criar mecanismos financeiros alternativos que permitam transações mais seguras e menos suscetíveis a sanções. Entre as iniciativas discutidas está a criação de um sistema de pagamentos transfronteiriços comum para os países membros, que serviria como uma alternativa ao sistema SWIFT, amplamente utilizado nas transações financeiras internacionais, mas que é controlado por países ocidentais.
Além disso, há um esforço para permitir o uso de moedas digitais nacionais nos projetos de investimento do BRICS. Essas iniciativas visam contornar as sanções impostas por países ocidentais e dar mais autonomia econômica aos membros do bloco. Embora já exista um grande progresso na criação de mecanismos financeiros alternativos, Putin afirmou que ainda é cedo para falar sobre a criação de uma moeda única para o BRICS, uma ideia que tem sido debatida entre os membros do grupo. No entanto, ele enfatizou que a cooperação financeira entre os países do BRICS será crucial para garantir a independência econômica do bloco.
Novo Banco de Desenvolvimento e Infraestrutura Global
Outro ponto de destaque nas discussões da cúpula do BRICS será o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), criado pelo bloco para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento. Putin pediu ao NBD que aumente seus investimentos em tecnologia e infraestrutura nos países do Sul Global, com especial ênfase em áreas como comércio eletrônico e inteligência artificial. O NBD tem se consolidado como uma alternativa a instituições financeiras tradicionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que muitas vezes são vistos como dominados pelos interesses das economias ocidentais.
Putin reforçou que o banco continuará sendo desenvolvido para atuar como uma ferramenta essencial na promoção do desenvolvimento econômico global, especialmente em regiões emergentes. Ele destacou que, como uma instituição financeira multilateral, o NBD já desempenha um papel importante na diversificação dos mecanismos financeiros disponíveis para os países do BRICS e seus parceiros. O fortalecimento dessa instituição faz parte da estratégia do BRICS de reduzir a dependência de organismos financeiros ocidentais, promovendo uma ordem econômica mais multipolar.
Resistência às Sanções e Aumento do Comércio entre os Membros do BRICS
Um dos principais desafios que o BRICS enfrenta é a resistência às sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e seus aliados ocidentais, especialmente no caso da Rússia, após a invasão da Ucrânia. Putin usou a cúpula para reafirmar que os esforços para isolar a Rússia não tiveram o impacto desejado, apontando para a continuidade do comércio com outros membros do BRICS. Ele enfatizou que o bloco tem potencial para criar uma rede comercial robusta e autossustentável, menos vulnerável às políticas de sanções do Ocidente.
Com a entrada de novos membros e o fortalecimento dos laços comerciais entre os países do bloco, o BRICS pretende aumentar o volume de comércio interno, criando novas oportunidades de desenvolvimento econômico e cooperação. Essa estratégia é vista como essencial para a consolidação do grupo como um verdadeiro contraponto à influência ocidental na economia global. O aumento das trocas comerciais entre os países membros não apenas fortaleceria suas economias individuais, mas também criaria uma rede de suporte mútuo em tempos de crise, reduzindo a dependência de mercados externos.
Conclusão
A afirmação de Vladimir Putin de que o BRICS será o motor do crescimento econômico global nos próximos anos destaca a crescente importância do bloco no cenário internacional. Com a inclusão de novos membros, a criação de mecanismos financeiros alternativos e a busca por uma maior independência econômica, o BRICS está se consolidando como uma força significativa na política e no comércio globais. A cúpula de Kazan promete ser um momento decisivo para o futuro do bloco, que continua a desafiar a hegemonia ocidental e a buscar formas de promover o desenvolvimento sustentável e inclusivo para seus membros e parceiros.