Muitos investidores têm recebido ofertas do Tesouro IPCA+ 2060 e questionam se este título é uma boa oportunidade para estratégias de marcação a mercado.
Neste artigo, vamos analisar os aspectos fundamentais deste título, comparando-o com alternativas mais líquidas, e entender se o potencial de valorização compensa os riscos associados.
Entendendo o potencial de marcação a mercado
Para avaliar adequadamente o potencial de valorização de um título público dado mudanças na taxa de juros, precisamos analisar sua duration (prazo médio) e entender como isso impacta sua precificação.
Vamos utilizar a calculadora da B3 para demonstrar este conceito. Buscando por “calculadora B3” no Google, você encontrará uma ferramenta que permite calcular o preço unitário (PU) de diversos títulos, incluindo títulos públicos como o Tesouro IPCA+.
Calculando o potencial do IPCA+ 2060
Selecionando o título NTN-B 2060 e utilizando uma taxa de IPCA+ 7,5%, obtemos um PU de 3.666,31. Se simularmos uma queda na taxa para IPCA+ 6,5%, o PU sobe para 4.175,30.
Calculando a valorização:
4.175,30 ÷ 3.666,31 - 1 = 13,88%
Isso significa que, para cada queda de 1% na taxa de juros, o título valoriza aproximadamente 14%. Este percentual está diretamente relacionado à duration do título, que neste caso é de aproximadamente 14 anos.
Comparando com IPCA+ 2035
Para contextualizar, vamos comparar com o Tesouro IPCA+ 2035 Principal (sem pagamento de cupons semestrais):
Usando a mesma calculadora com o NTN-B Principal 2035:
- Com taxa de IPCA+ 7,5%: PU de 2.136,27
- Com taxa de IPCA+ 6,5%: PU de 2.348,12
Calculando a valorização:
2.348,12 ÷ 2.136,27 - 1 = 9,92%
Vemos que o título 2035 valoriza aproximadamente 10% para cada queda de 1% na taxa, refletindo sua duration menor de cerca de 10 anos.
Vantagens e desvantagens do IPCA+ 2060

Vantagens:
- Maior potencial de valorização: Com uma queda de 1% na taxa, oferece ganho de 13,88% contra 9,92% do IPCA+ 2035
- Maior sensibilidade às taxas: Ideal para quem acredita firmemente numa queda consistente dos juros
Desvantagens:
- Liquidez significativamente menor: Título muito menos negociado que o IPCA+ 2035
- Volatilidade extremamente alta: Comparável ou até superior à volatilidade da bolsa de valores
- Horizonte de investimento muito longo: Difícil ter convicção sobre um cenário econômico tão distante
- Spread potencialmente alto: Intermediários podem cobrar spreads significativos na compra e venda
A questão da volatilidade
Um aspecto crucial a considerar é que a volatilidade do IPCA+ 2060 é comparável à volatilidade do mercado de ações. Analisando dados históricos, vemos que o título já apresentou volatilidade de 16,85%, enquanto a bolsa registrou 16,95%.
Isso significa que, ao optar pelo IPCA+ 2060, você estará expondo sua carteira de renda fixa a oscilações típicas do mercado de ações, o que pode não ser adequado para o perfil de risco de muitos investidores.
Uma estratégia alternativa
Em vez de concentrar recursos em um título de baixa liquidez e alta volatilidade como o IPCA+ 2060, uma estratégia mais equilibrada seria aumentar a alocação em títulos mais líquidos como o IPCA+ 2035.
Vejamos um exemplo:
- Opção 1: 35% da carteira em IPCA+ 2060 (ganho de 13,88% por 1% de queda na taxa)
- Impacto na carteira: 35% × 13,88% = 4,86%
- Opção 2: 49% da carteira em IPCA+ 2035 (ganho de 9,92% por 1% de queda na taxa)
- Impacto na carteira: 49% × 9,92% = 4,86%
As duas estratégias geram o mesmo impacto na rentabilidade total da carteira para uma queda de 1% na taxa de juros, mas a segunda opção utiliza um título significativamente mais líquido.
Cuidado com os spreads no mercado secundário
Um ponto de atenção fundamental ao considerar ofertas do IPCA+ 2060 no mercado secundário são os spreads cobrados pelos intermediários. Se o título está sendo negociado, por exemplo, a IPCA+ 7,42% no Tesouro Direto, mas uma instituição te oferece a IPCA+ 7%, você está pagando um spread de 0,42%.
Isso pode parecer pouco, mas representa um custo significativo em um título tão longo. Esse spread é integralmente pago no momento da compra e impacta todo o período até o vencimento, diferentemente da taxa de custódia do Tesouro Direto (0,20% a.a.), que é cobrada proporcionalmente ao tempo que você mantém o título.
O limite da duration na prática
É importante entender também que a relação entre duration e valorização não é linear indefinidamente. Devido à convexidade da curva de juros, títulos extremamente longos não apresentam ganhos proporcionais ao seu prazo.
Por exemplo:
- Um título de 10 anos ganha aproximadamente 10% para cada 1% de queda nas taxas
- Um título de 20 anos ganha em torno de 18% (não 20%)
- Um título de 30 anos ganha aproximadamente 25% (não 30%)
A partir de certo ponto, o ganho marginal por aumentar a duration diminui significativamente, não compensando o aumento de risco e a redução de liquidez.
Conclusão: IPCA+ 2060 vale a pena?
Considerando todos os fatores analisados, para a maioria dos investidores, o IPCA+ 2060 não apresenta uma relação risco-retorno favorável quando comparado a alternativas mais líquidas como o IPCA+ 2035 ou IPCA+ 2040.
Uma estratégia mais prudente é:
- Optar por títulos com boa liquidez como o IPCA+ 2035 Principal
- Ajustar o percentual de alocação para atingir o potencial de retorno desejado
- Diversificar a carteira com outros títulos, incluindo crédito privado de qualidade
- Evitar spreads excessivos no mercado secundário, preferindo canais com precificação transparente
Para um investidor que deseja exposição à marcação a mercado, uma alocação em torno de 35% da carteira em IPCA+ 2035 Principal, complementada com títulos pós-fixados e crédito privado de qualidade, oferece um equilíbrio superior entre risco, retorno e liquidez.
Este artigo tem caráter informativo e não constitui recomendação de investimento. Consulte sempre um especialista antes de tomar decisões financeiras.